O mecanismo do acabar uma relação

Se há situações caricatas e, de certa forma, estúpidas, são as situações dos pós-relacionamentos. Quem nunca acabou uma relação com outra pessoa? Quem nunca sofreu, uma pontinha que seja, por amor? Eu sei, isto é lemechas. Mas continuem a ler, irão ver onde quero chegar...

Quando uma relação acaba, pensamos sempre nela, mesmo que seja uma relação com pouco significado. Uma grande parte das vezes sofremos com isso também. E há uma coisa que nos ajuda a recuperar desse mau estar: o nosso orgulho.

Mas por vezes, em alguns casos, o orgulho leva-nos a fazer figuras ridículas, e é aqui que eu faço uma pergunta: Porque é que depois de terminada uma relação e depois da separação difinitiva dos dois ex-pombinhos por algum tempo, há uma espécie de competição entre eles quando se voltam a encontrar? Falo daquela corrida para ver "quem está melhor e mais feliz", "quem não sofre nada por causa da relação que não deu certo" ... Vou exempleficar:

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(A cena passa-se num café onde, por acaso, dois ex-namorados

se encontram, depois de 1 mês e meio de separação)

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Ela: Olha! Tu por aqui? Então está tudo bem contigo?

Ele: Olá! Pois... Eu estou óptimo! Não podia estar melhor! E tu como estás? O que tens feito?

Ela: Eu também estou bem: Fui promovida no trabalho... Agora também tenho namorado, o António,tu conheces... E tu? Há novidades...?

Ele: Ah sim? Ah... Parabéns! Fico feliz por vocês... Eu tenho andado super bem. Também tenho namorada, mas não a conheces, ela não é de cá...

Ela: Muito bem, ainda bem que as coisas estão a correr bem...

Ele:Pois é, pois é, ainda bem. Olha agora que te vejo, até te vou confessar uma coisa: termos acabado foi a melhor coisa... As coisas não estavam a resultar e assim até tive a oportunidade de conhecer a Susana, a minha namorada.

Ela: Sim, claro... Eu também penso assim. Era inevitável, e ainda bem que acabamos a tempo de ficar amigos... Foi melhor assim.

Ele: Pois... Exacto. Bem, tenho que ir embora, foi bom falar contigo, temos de ver se nos encontramos mais vezes...

Ela: Ok, eu também não vou demorar aqui. Foi bom ver-te. Até um dia destes! E vai dando notícias...

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Porém, do pensar ao dizer o que realmente se pensa, há uma enorme distância que, neste caso, aumenta com o nosso orgulho... Neste caso, o que estes dois realmente pensavam era qualquer coisa assim:

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Ela: Olha! Tu por aqui? Então está tudo bem contigo? (Ai eu não acredito! Ele tinha que estar aqui! Bolas! Ele já me viu, agora tenho que dizer alguma coisa...)

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Ele: Olá! Pois... Eu estou óptimo! Não podia estar melhor! E tu como estás? O que tens feito? (Humm... Calma, responde com calma... Não vais dar o braço a torcer!)

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Ela: Eu também estou bem: Fui promovida no trabalho... Agora também ando com outra pessoa, o António,tu conheces... E tu? Há novidades...? (Coisas boas, diz-lhe coisas boas... Ah o trabalho, claro! Subiste na carreira, passaste de moça de recados, para uma mísera escrava no escritório do patrão, onde és insultada a toda a hora... Humm, mas ele não precisa de saber isso! E como é que se chamava aquele imbecil que tinha o fetiche de ser chamado de Pinipom enquanto lhe penteavam os pêlos das costas com uma escova e com quem tive a infeliz ideia de ir para a cama para tentar esquecer... Ah, o António!Boa... Já estou a imaginar o cíume!)

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Ele: Ah sim? Ah... Parabéns! Fico feliz por vocês... Eu também tenho andado super bem. Também tenho namorada, mas não a conheces, ela não é de cá... (Porra, ela não perdeu tempo! É fresca é... Ainda por cima com o António, aquele anormal com aspecto duvidoso, eu era bem melhor que aquele imbecil! Mas também não posso ficar atrás! Ela não precisa de saber que estou sozinho!)

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Ela: Muito bem, ainda bem que as coisas te estão a correr bem... (Ah! Que lata! Nem deu tempo para arrefecer a cama dele e já arranjou outra! Os homens são todos iguais! Estúpido!)
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Ele:Pois é, pois é, ainda bem. Olha agora que te vejo, até te vou confessar uma coisa: termos acabado foi a melhor coisa... As coisas não estavam a resultar e assim até tive a oportunidade de conhecer a Susana, a minha namorada. (Ora toma lá! Susana! Nem ela nem eu conhecemos nenhuma Susana...Assim, nem vai desconfiar que eu ainda tenho o meu quarto cheio de fotos dela, para onde olho e fico a pensar durante horas, antes de ir dormir...)
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Ela: Sim, claro... Eu também penso assim. Era inevitável, e ainda bem que acabamos a tempo de ficar amigos... Foi melhor assim. (E pensar que ainda guardo aquela t-shirt que usavas e que ainda tem o teu cheiro...)

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Ele: Bem, tenho que ir embora, foi bom falar contigo, temos de ver se nos encontramos mais vezes... (Será que lhe digo alguma coisa...? Será que lhe devo contar a verdade, dizer o que realmente sinto por ela? Não! Não podes ceder! Pisga-te... Vai lá embora enquanto é tempo, sai com dignidade!)

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Ela: Ok, eu também não vou demorar aqui. Foi bom ver-te. Até um dia destes! E vai dando notícias... (Vai lá, antes que comece a chorar feita parva por ainda estar perdidamente apaixonada por ti... É que a desculpa do "Estou com as minhas alergias, este tempo pá!" não resulta contigo! Não podes ceder! Não podes dar a parte fraca!" Mas porque é que as coisas acabaram entre nós...?)

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Esta, tal como qualquer outra situação do mesmo género seria totalmente desnecessária... E provavelmente, os dois seriam mais felizes se esquececem o orgulho e resolvessem os seus "problemas de comunicação". Mas as coisas nem sempre correm assim. E é por isso que, na minha opinião, todo o processo de acabar uma relação é estupido: A começar na disputa para ver quem acaba primeiro (porque quem acaba primeiro, ganha!) e a acabar no orgulho que dá origem a uma barreira entre duas pessoas...

Mas porque é que complicam???